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A Verdadeira Prosperidade Segundo as Escrituras

Imagem de várias pilhas de moedas de ouro dispostas sobre diversas cédulas de dólar, representando o contraste entre a riqueza material e o verdadeiro conceito de prosperidade bíblica.
O que significa, de fato, ser próspero à luz das Escrituras? A palavra “prosperidade” tem sido utilizada em nossos dias com uma frequência desproporcional à sua correta compreensão. Infelizmente, seu uso frequente está associado a pregações motivacionais que enfatizam conquistas financeiras como evidência de fé — um retrato distorcido e reducionista do verdadeiro ensinamento bíblico.

Qual é, então, a visão que Deus nos apresenta sobre este assunto?

Para responder a essa pergunta, devemos retornar ao texto sagrado e permitir que ele, com sua autoridade inquestionável, redefina nossas categorias. Em sua terceira epístola, o apóstolo João nos oferece um modelo claro e equilibrado do que poderíamos chamar de prosperidade cristã. Este será o texto áureo de nossa abordagem e estudo.

TEXTO-BASE


“Amado, acima de tudo, faço votos por tua prosperidade e saúde, assim como é próspera a tua alma” – 3 João 1.2 (ARA)

A TRÍPLICE DIMENSÃO DA PROSPERIDADE


Esta passagem bíblica é uma declaração rica, que expressa não apenas um desejo pessoal do apóstolo João, mas também um princípio teológico valioso que norteia a base para a nossa compreensão sobre o que vem a ser um caminho adequado para a prosperidade cristã.

Segundo a Concordância de Strong,¹ o verbo grego “prosperar” (euodóō - εὐοδόω) é definido como “ter sucesso em uma jornada” ou “ter um caminho bem-sucedido”. Não é, portanto, sinônimo de enriquecimento material, mas de progresso saudável e abençoado em diversas esferas da vida. Nesse sentido, João estava desejando que o progresso físico e financeiro de Gaio fosse bem-sucedido tal como sua maturidade espiritual também o era.

Como se vê, a prosperidade bíblica não está vinculada apenas à realização material, como muitos pensam. Ela envolve, na realidade, primeiramente a restauração da comunhão com o Senhor, a saúde física, e por fim a prosperidade material. Logo, temos aqui três dimensões importantes:

1. Prosperidade da Alma (Dimensão Espiritual)

O texto diz: “Assim como é próspera a tua alma”. Ou seja, a verdadeira prosperidade do cristão começa no interior. Trata-se do estado da alma diante de Deus — sua reconciliação, santificação e crescimento em graça. Gaio, o destinatário da epístola, era conhecido por sua fidelidade à verdade (3 Jo 1.1-4), o que revela que sua alma estava em plena comunhão com Deus.

Essa é a dimensão prioritária. A vontade primordial do Senhor não é que as pessoas vivam em uma mansão luxuosa, mas em que se arrependam e sejam salvas. Qualquer tentativa de prosperidade exterior dissociada da alma resulta em vazio e engano. Como nos adverte Jesus: “Que aproveitaria ao homem ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma?” (Mc 8.36).

A Escritura é bem clara quando diz que devemos buscar “primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça”. O objetivo final da vida é nosso relacionamento com Deus, e não o nosso bem-estar financeiro.

2. Prosperidade Física (Dimensão Corporal)

João declara: “Faço votos por tua... saúde”. Isso mostra que, embora o espiritual seja prioritário, Deus também se importa com o nosso corpo. A saúde é bênção do Senhor, e o cuidado com o corpo — templo do Espírito Santo (1 Co 6.19) — é uma expressão de mordomia fiel.

Entretanto, essa dimensão também deve ser entendida com equilíbrio. A saúde pode ser afetada por provações permitidas por Deus para nossa edificação. Jó é exemplo disso. Portanto, uma vida genuinamente cristã não significa ausência garantida de enfermidades, mas graça para viver com dignidade e sustento para enfrentar circunstâncias adversas.

A Palavra afirma claramente que no mundo teremos de enfrentar muitas aflições, inclusive aflições que envolvem enfermidades físicas.

3. Prosperidade Material (Dimensão Circunstancial)

O apóstolo também menciona outro aspecto quando diz: “Faço votos por tua prosperidade...” Portanto, a prosperidade financeira ou circunstancial também faz parte do plano de Deus para nós, desde que seja vivida com responsabilidade, contentamento e generosidade. Deus não é contra a prosperidade material, mas contra o amor ao dinheiro (1 Tm 6.10).

É necessário discernir que o alvo da vida cristã não é o enriquecimento, mas o cumprimento da vontade de Deus. A bênção material é consequência, não um fim em si. Quando buscada de forma desordenada, torna-se idolatria (Mt 19.16-24). Como bem observou Jesus: “Não podeis servir a Deus e às riquezas” (Mt 6.24).

DISTORÇÃO E GANÂNCIA


A chamada “Teologia da Prosperidade” tem empobrecido o evangelho. Ela transforma a fé em moeda de troca, e o culto em mercado de interesses. Muitos falsos mestres utilizam a piedade como plataforma de enriquecimento (cf. 1 Tm 6.5).

Nesse sentido, Hernandes Dias Lopes observa que “devemos orar pela prosperidade financeira e pela saúde dos crentes, sem cair, contudo, no engano da teologia da prosperidade, que afirma que o crente não pode ser pobre nem ficar doente”.²

O apóstolo Paulo, por exemplo, nos convida ao contentamento: “Tendo, porém, sustento e com que nos vestir, estejamos contentes” (1 Tm 6.8). Ele mesmo experimentou tanto a fartura quanto a necessidade (Fp 4.12), e em ambas circunstâncias ele glorificou ao Senhor.

O cristão não pode ser ganancioso, pois “os que querem ser ricos caem em tentação, e em laço, e em muitas concupiscências loucas e nocivas, que submergem os homens na perdição e ruína. Porque o amor do dinheiro é a raiz de toda espécie de males; e nessa cobiça alguns se desviaram da fé e se traspassaram a si mesmos com muitas dores” (1 Tm 6.9,10).

Ressalta-se, no entanto, que o apóstolo está se referindo ao amor do dinheiro, e não ao dinheiro em si. Não é pecado ter dinheiro no bolso, pecado é ter o dinheiro no coração (cf. Mt 6.21). A busca pela prosperidade material não deve se tornar o objetivo mais elevado, nem pode acontecer às custas da perda de relacionamentos interpessoais ou do afastamento do homem para com Deus.

Assim, uma espiritualidade madura reconhece que a verdadeira prosperidade não é medida pelo saldo bancário ou quantidade de bens, mas pela comunhão com Deus, o crescimento em virtude e a generosidade para com o próximo.

SAÚDE: UM BEM ESQUECIDO POR MUITOS


Muitos sacrificam a saúde na busca desenfreada por sucesso material. Horas excessivas de trabalho, noites mal dormidas, alimentação desregrada e ausência de descanso corroem o corpo — e com ele, também a alma.

É necessário lembrar que nosso corpo pertence a Deus e deve ser cuidado com zelo (Ef 5.29). Cuidar da saúde é um ato espiritual, pois nos capacita a servir melhor, amar com mais disposição e testemunhar com mais vigor. Nenhuma fortuna justifica a negligência do bem-estar físico.

SABEDORIA E USO CORRETO DOS RECURSOS


A Bíblia é rica em princípios sobre administração financeira. De Gênesis a Apocalipse, encontramos instruções sobre diligência, economia, generosidade e fidelidade. Salomão, o homem mais sábio de seu tempo, pediu a Deus sabedoria para governar com justiça (2 Cr 1.10). Como consequência, recebeu também riquezas e honra (2 Cr 1.11,12).

O que isso nos ensina? Que a sabedoria que vem de Deus precede a prosperidade financeira. A má administração de recursos gera endividamento, ansiedade e frustração. A sabedoria, por outro lado, gera liberdade, equilíbrio e capacidade de abençoar os outros. O livro de Provérbios, por exemplo, é rico em inúmeros conselhos práticos que abordam tais temas.

Mais do que isso, a sabedoria divina nos ensina o propósito dos recursos: eles são uma ferramenta para a glória de Deus e o serviço ao próximo. A prosperidade, na visão bíblica, nunca é para o acúmulo egoísta, mas para a generosidade abundante (2 Co 9.8-11). Somos abençoados para sermos canais de bênção. Enquanto o contentamento nos livra da cobiça, e a sabedoria nos capacita para a mordomia fiel, cujo fruto visível é a generosidade para com o próximo.

CONCLUSÃO


A mensagem de 3 João 1.2 não é uma licença para a cobiça, mas um convite à integralidade. Deus deseja que seus filhos prosperem sim — mas de modo ordenado, equilibrado e submisso à Sua vontade. Quando o coração está cheio de Deus, as demais coisas são recebidas com gratidão e usadas com sabedoria.

Prosperar é viver em sintonia com a vontade de Deus, é experimentar a suficiência de Cristo em todas as áreas, e é ser bênção para aqueles que estão ao nosso redor. Portanto, em vez de buscar primeiro as bênçãos materiais, busquemos o Reino — e outras coisas nos serão acrescentadas (Mt 6.33).

Por fim, podemos imaginar a prosperidade cristã como uma árvore frutífera: a prosperidade espiritual (a alma) é a raiz que precisa ser forte e saudável; a prosperidade física (a saúde) é o tronco que sustenta a estrutura da vida diária; e a prosperidade material (as finanças) são os frutos que sustentam a si mesmo e permitem que você seja generoso com os outros.

Lembre-se, porém, que a prosperidade material não pode ser mais importante do que o tronco e a vida da própria raiz.

Christo Nihil Praeponere — A nada dar mais valor que a Cristo


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NOTAS


¹ STRONG. Concordância de Strong. Disponível em <https://biblehub.com/greek/2137.htm> 
² LOPES, Hernandes Dias. 1, 2, 3 João. Hagnos, 2011, p. 252.

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