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QUEM SÃO OS ANJOS? UM ESTUDO BÍBLICO E TEOLÓGICO

Ilustração artística detalhada mostrando um grupo numeroso de anjos com vestes claras e asas abertas, expressando louvor e adoração, direcionando seu olhar para cima em um ambiente celestial iluminado por uma luz suave.
Você já refletiu sobre quem são esses seres misteriosos que as Escrituras chamam de anjos? A despeito de serem citados tantas vezes na Bíblia, eles frequentemente despertam fascínio e também muitas dúvidas. A grande verdade é que, além do mundo físico e visível, Deus também criou criaturas espirituais: os anjos.

Neste estudo completo e aprofundado examinaremos cuidadosamente o que a Bíblia ensina sobre a natureza, a criação e as características dos seres angelicais.

I – ANJOS: MENSAGEIROS CELESTIAIS


Em hebraico a palavra anjo é “mal'ak” (מֲלְאָךְ), que significa literalmente mensageiro. Em grego a palavra é “angelos” (ἄγγελος), possuindo o mesmo significado. Embora frequentemente associemos o termo à natureza espiritual desses seres, seu significado bíblico central refere-se à sua missão: transmitir mensagens e realizar tarefas específicas determinadas por Deus.

Exemplos notórios desses mensageiros são numerosos nas Escrituras. Se somarmos as ocorrências do substantivo anjo no Antigo e Novo Testamento, chegaremos ao número de 389 menções. O anjo Gabriel, por exemplo, anunciou o nascimento de João Batista (Lc 1.13-20) e de Jesus (Lc 1.26-38); outro anjo também foi enviado para confortar o Mestre no Getsêmani (Lc 22.43).

No entanto, quem são esses seres?

II – ANJOS: CRIATURAS DE DEUS


A Bíblia afirma com clareza que os anjos não são eternos, mas criaturas criadas por Deus. Paulo declara categoricamente em Colossenses 1.16 que em Jesus foram criadas todas as coisas que há nos céus e na terra, visíveis e invisíveis, sejam tronos, sejam dominações, sejam principados, sejam potestades; tudo foi criado por ele e para ele”.

Historicamente, a Igreja sempre defendeu a doutrina da criação dos anjos contra crenças gnósticas e pagãs que alegavam sua eternidade ou divindade própria. Deus é, portanto, a Causa não-causada de tudo quanto há nos Céus e na Terra. O salmista foi claro quando disse que os anjos foram criados pela palavra de Deus:

Louvai-o, todos os seus anjos; louvai-o, todos os seus exércitos. Que louvem o nome do Senhor, pois mandou, e logo foram criados (Sl 148.2,5).

Quando os Anjos Foram Criados?

A Escritura afirma que os anjos cantavam quando as bases da Terra estavam sendo lançadas (Jó 38.4-7).

Neste sentido, Agostinho (354-430) entendia que os anjos foram criados nos instantes iniciais do universo: Está escrito que os anjos foram feitos expressamente e por autoridade divina, por Deus, pois acerca deles, entre as outras coisas celestiais, Ele ordenou e foram criados. Quem será suficientemente ousado para sugerir que os anjos foram feitos depois dos seis dias da criação?

Além disso, prossegue dizendo que “os anjos existiram antes das estrelas; e as estrelas foram feitas no quarto dia”.¹ Portanto, parece provável que os anjos tenham sido criados quando a Bíblia diz: “No princípio, criou Deus os céus e a terra” (Gn 1.1).

Quantos Anjos Foram Criados?

Acerca do seu número paira um grande mistério. O que sabemos é que são incontáveis, sendo descritos em vários lugares como “legiões” (Mt 26.53); “exércitos” (SI 46.7); “uma multidão dos exércitos celestiais” (Lc 2.13); “milhões de milhões e milhares de milhares” (Ap 5.11); e “miríades de miríades” (Dn 7.10).

Embora nitidamente seja uma quantidade vastíssima, seu número é fixo e permanece o mesmo desde o princípio. Isto porque eles não morrem e nem se reproduzem. Jesus afirmou que, na ressurreição, seremos como os anjos do céu, que “não se casam e nem são dados em casamento” (Mt 22.30).

Em Que Estado os Anjos Foram Criados?

Originalmente, os anjos foram criados puros, santos e perfeitos, refletindo diretamente a glória divina. Isso fica claro quando Gênesis 1.31 declara que “viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom”. Contudo, dotados de livre-arbítrio, parte deles pecou e caiu, resultando em anjos caídos ou, como costumamos chamar, demônios (cf. Jd 6; II Pe 2.4).

Martinho Lutero (1483-1546), ao comentar sobre os anjos caídos, disse que eles não foram criados maus por Deus, mas ficaram assim pela rebelião que fizeram contra Ele e pela consequente queda. Este ódio começou no Paraíso, e continuará e permanecerá contra Cristo e a igreja até ao fim do mundo

Os anjos que permaneceram leais a Deus são os chamados anjos eleitos (1 Tm 5.21), mas aqueles que não guardaram o seu principado receberão a condenação e castigos eternos (Mt 25.41).

III – A HABITAÇÃO DOS ANJOS


Os anjos habitam as regiões celestiais, conforme claramente indicado nas Escrituras. Dois textos serão suficientes para demonstrar isso. Jesus disse: “Vede, não desprezeis algum destes pequeninos, porque eu vos digo que os seus anjos nos céus sempre vêem a face de meu Pai que está nos céus” (Mt 18.10).

Neste mesmo sentido, o profeta Micaías viu “o Senhor assentado sobre o seu trono, e todo o exército do céu estava junto a ele, à sua mão direita e à sua esquerda” (1 Rs 22.19). No entanto, os anjos podem atuar interligando o plano espiritual ao material, como vemos nitidamente no sonho de Jacó (Gn 28.12).

IV – NATUREZA E CARACTERÍSTICAS DOS ANJOS


A Bíblia nos apresenta muitas informações acerca da natureza e personalidade dos anjos. As principais estão descritas abaixo. 

1. São Espirituais e Imateriais

Embora possam temporariamente assumir forma física (Gn 18), os anjos são essencialmente seres espirituais, imateriais e invisíveis (Hb 1.14; Cl 1.16). Essa natureza incorpórea ou imaterial permite que múltiplos anjos coexistam no mesmo espaço físico, como visto, por exemplo, no episódio do gadareno possesso por uma legião de anjos caídos (cf. Lucas 8.30).

Anjos são espíritos e, conforme esclareceu nosso Senhor, “um espírito não tem carne nem ossos(Lc 24.39).

Assim, Jacó Armínio (1560-1609) comenta queo universo inteiro está, de acordo com as Escrituras, distribuído da melhor maneira possível em três classes: (1) Para as criaturas puramente espirituais e invisíveis; os anjos pertencem a esta classe; (2) para as criaturas meramente corpóreas; e (3) para as naturezas que são, em uma parte delas, corpóreas e visíveis, e em outra parte, espirituais e invisíveis; os homens pertencem a esta última classe

2. São Seres Imortais

Os anjos não são eternos, mas foram criados como seres imortais. Por não possuírem corpo, não estão sujeitos à morte ou decomposição: “Os que forem havidos por dignos de alcançar o mundo vindouro e a ressurreição dos mortos nem hão de casar, nem ser dados em casamento; porque já não podem mais morrer, pois são iguais aos anjos e são filhos de Deus, sendo filhos da ressurreição” (Lc 20.35,36).

3. São Seres Morais com Livre-Arbítrio

A capacidade de escolha moral dos anjos teve consequências profundas. Judas, ao tratar deste assunto, escreveu sobre os “anjos que não guardaram o seu principado, mas deixaram a sua própria habitação”, acrescentando que Deus os “reservou na escuridão e em prisões eternas até ao juízo daquele grande Dia” (Jd 6).

Em sua segunda epístola o apóstolo Pedro também destacou que “Deus não perdoou aos anjos que pecaram”, deixando-os reservados para o Juízo (2 Pe 2.4). Isso nos alerta para o fato de que toda escolha também traz consigo suas consequências.

4. São Seres de Elevado Intelecto

Dotados de grande inteligência, não são, porém, oniscientes como Deus: “Daquele Dia e hora, ninguém sabe, nem os anjos que estão no céu, nem o Filho, senão o Pai” (Mc 13.32). Isso é interessante porque, em um único versículo, Jesus deixou claro que os anjos não são oniscientes ao mesmo tempo que insinuou que eles possuem grande saber.

Outra passagem interessante é a que lemos no segundo livro do profeta Samuel, acerca do rei: “Porque, como um anjo de Deus, assim é o rei, meu senhor, para discernir entre o bem e o mal ... Sábio é meu senhor, conforme a sabedoria de um anjo de Deus, para entender tudo o que há na terra” (14.20).

Esse conhecimento elevado facilita a missão deles como mensageiros, revelando verdades divinas profundas, como demonstrado nas visões do Apocalipse.

5. São Seres Dotados de Personalidade e Emoções

A Bíblia mostra claramente que os anjos possuem vontade, intelecto e emoções reais. Em Lucas 15.10, por exemplo, observamos que “há alegria diante dos anjos de Deus por um pecador que se arrepende”. De forma semelhante, eles cantaram e rejubilaram enquanto o Senhor criava e lançava os fundamentos da Terra (Jó 38.7).

6. São Seres Dotados de Poder e Autoridade

Dotados de força muito superior à humana (2 Pe 2.11), a Bíblia relata anjos realizando feitos extraordinários, como proteger Daniel de leões famintos (Dn 6.22), libertar Pedro da prisão (At 12.7-11) e infligir julgamento a Sodoma (Gn 19).

Sobre o poder dos anjos, escreveu o salmista: Bendizei ao Senhor, anjos seus, magníficos em poder, que cumpris as suas ordens, obedecendo à voz da sua palavra (103.20).

Outra passagem também registra “um grande terremoto, porque um anjo do Senhor, descendo do céu, chegou, removendo a pedra, e sentou-se sobre ela. E o seu aspecto era como um relâmpago, e a sua veste branca como a neve. E os guardas, com medo dele, ficaram muito assombrados e como mortos(Mt 28.2-4).

7. São Seres Superiores aos Homens

A epístola aos Hebreus, ao citar o livro dos Salmos, reforça a verdade de que os homens foram feitos “um pouco menor do que os anjos” (Hb 2.7). O apóstolo Pedro também declara, em relação aos homens, que os anjos são “maiores em força e poder” (2 Pe 2.11).

Essa superioridade, no entanto, permanece apenas quanto à condição humana atual. Futuramente haverá uma condição de igualdade entre os homens e os anjos eleitos (cf. Lc 20.34-36). Além disso, os crentes salvos tomarão parte ativa no julgamento dos anjos caídos, ou porventura “não sabeis vós que havemos de julgar os anjos?” (1 Co 6.3).

8. São Seres Assexuados

Os anjos, sendo espirituais, não possuem gênero, não se casam nem procriam (Mt 22.30). Este aspecto realça ainda mais sua natureza distinta da humanidade, sublinhando sua singularidade e propósito no plano eterno de Deus.

Para uma discussão sobre os Filhos de Deus em Gênesis 6, clique aqui.

CONCLUSÃO


Além do mundo físico habitado pelos seres humanos, Deus criou também as criaturas espirituais chamadas anjos. Enquanto o universo físico é material, os anjos são seres espirituais e imateriais. Os seres humanos possuem uma constituição material (corpo) e espiritual (alma e espírito), ao passo que os anjos são apenas espírito.

Eles não morrem e nem se reproduzem, portanto o seu número permanece o mesmo desde o dia em que foram criados. São seres dotados de intelecto, força e poder. Como seres pessoais, eles possuem emoções, vontade e responsabilidade moral.

Estudos posteriores irão tratar da hierarquia, do propósito e do serviço dos seres angelicais.

“Christo Nihil Praeponere — A nada dar mais valor que a Cristo.”


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NOTAS


¹ GEISLER, Normam. Teologia Sistemática Vol. 1 e 2. CPAD, 2010, p. 976.
² Id., p. 979.
³ Id., p. 981.

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