Quem é Deus? Será que podemos conhecê-lo com precisão? Em meio a uma cultura saturada de opiniões subjetivas sobre o divino, conhecer os atributos de Deus é mais do que necessário para desenvolvermos uma fé cristã autêntica e firme.
Por “atributos”, nos referimos àquelas qualidades ou características essenciais do Ser de Deus, conforme reveladas nas Escrituras. Não se trata de características que nós atribuímos a Ele a partir da experiência humana, mas de realidades eternas e absolutas que pertencem à própria natureza de Deus. Ele é infinito, imutável, onisciente, justo, amoroso, santo, entre tantos outros atributos revelados progressivamente ao longo da história bíblica.
Neste estudo, abordaremos três razões fundamentais pelas quais o conhecimento dos atributos divinos é absolutamente indispensável para a vida cristã:
(1) Porque todas as doutrinas bíblicas dependem da compreensão correta de quem Deus é; (2) porque somente conhecendo os atributos divinos podemos identificar falsos ensinos; e (3) porque a maneira como concebemos Deus molda diretamente nossa vida espiritual e nosso relacionamento com o próximo.
1 – TODA DOUTRINA BÍBLICA DEPENDE DOS ATRIBUTOS DE DEUS
A teologia sistemática reconhece que a doutrina de Deus é o alicerce de todas as demais doutrinas. O estudo dos Seus atributos, portanto, não é uma disciplina isolada, mas a fonte da qual fluem todos os ensinamentos bíblicos. Nesse sentido, Norman Geisler (1932-2019) comenta que “poucos estudos (se é que há) são mais importantes do que o estudo dos atributos de Deus”.¹ Vejamos alguns exemplos:
A Justiça de Deus e a Obra Expiatória de Cristo
A justiça divina (Sl 89.14; Rm 3.25,26) está no centro do plano de redenção. A morte de Cristo não foi apenas um gesto de amor, mas uma exigência da justiça de Deus que não pode simplesmente ignorar o pecado. Assim, para que Deus fosse justo e ao mesmo tempo justificasse o pecador, foi necessária uma expiação substitutiva em nosso favor. Sem a justiça de Deus, a cruz seria incompreensível.
Assim, entender corretamente o atributo da justiça divina nos ilumina na compreensão de outras doutrinas bíblicas. Outros temas que também se tornam claros à luz da justiça de Deus são, por exemplo, os que dizem respeito ao inferno e ao juízo eterno.
O Amor de Deus e a Salvação Pela Graça
De igual forma, o atributo do amor de Deus (Jo 3.16; Ef 2.4,5) é o que nos permite entender a motivação do plano salvífico. Sem esse amor eterno, incondicional e voluntário, não haveria redenção. Esse amor, porém, deve ser compreendido em harmonia com os demais atributos — e não de forma isolada ou sentimentalizada.
A Onisciência e a Escatologia Bíblica
Doutrinas como a eleição (Ef 1.4,5), a presciência divina (1 Pe 1.2), e a certeza das profecias escatológicas (Is 46.10; Dn 2.21,22) estão fundamentadas na realidade da onisciência divina. Se Deus não conhecesse perfeitamente o passado, o presente e o futuro, não haveria segurança quanto ao cumprimento dos Seus propósitos.
A Onipotência e os Milagres
Quando a Bíblia relata o nascimento virginal (Lc 1.37), a ressurreição de Cristo (Rm 1.4), a criação do universo (Gn 1.1), ou as pragas do Egito (Êx 7–12), todos esses eventos só são possíveis à luz do atributo da onipotência de Deus — Seu poder absoluto e ilimitado.
A tabela abaixo sintetiza alguns exemplos de como as doutrinas bíblicas se relacionam diretamente com os atributos divinos:
Em resumo, sem os atributos divinos, toda a estrutura das doutrinas cristãs ruiriam de maneira drástica. Portanto, o estudo sobre Deus e Suas características são o início de todo verdadeiro conhecimento (Pv 9.10) e também o fundamento de toda doutrina bíblica básica.
2 – CONHECER OS ATRIBUTOS DE DEUS É ESSENCIAL PARA IDENTIFICAR AS HERESIAS
Jesus advertiu: “Acautelai-vos dos falsos profetas” (Mt 7.15). Paulo também disse que, nos últimos tempos, muitos dariam ouvidos “a espíritos enganadores e a doutrinas de demônios” (1 Tm 4.1). No entanto, como reconhecer tais erros se não conhecermos profundamente o que é verdadeiro sobre Deus?
Conhecimento Bíblico Como Antídoto Contra o Erro
João nos exorta dizendo: “Provai se os espíritos são de Deus” (1 Jo 4.1). Ora, isso só é possível se tivermos um critério sólido — e esse critério é a doutrina revelada nas Escrituras, sobretudo quanto à natureza de Deus. Diversas heresias surgiram ao longo da história por causa de distorções ou negações acerca dos Seus atributos:
O teísmo aberto, por exemplo, afirma que Deus não conhece o futuro com exatidão, negando-lhe o atributo da onisciência. Já os marcionitas dizem que o Deus revelado no Antigo Testamento é diferente daquele mencionado no Novo, pois o primeiro seria muito severo (negando, assim, os atributos da simplicidade e imutabilidade de Deus).
Outros, que seguem o antinomianismo, alegam que a graça de Deus exclui a necessidade de vivermos de forma santa, o que os fazem negar atributos como a justiça e a santidade divina. Sendo assim, torna-se evidente a importância do estudo dos atributos de Deus a fim de não cairmos em erros ou heresias.
O Papel da Apologética
Conhecer os atributos de Deus também nos prepara para cumprir a vocação apologética da fé cristã, tais como a “defesa do Evangelho” (Fp 1.7), a resposta “com mansidão e temor a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” (1 Pe 3.15), e a batalha “pela fé que uma vez foi dada aos santos” (Jd 3).
Quando distorções sobre Deus ganham espaço na cultura, na mídia ou até nas igrejas, o cristão instruído nos atributos divinos saberá reconhecê-las, refutá-las e apontar a verdade com autoridade e zelo, sempre com amor e reverência.
3 – O CONCEITO QUE TEMOS DE DEUS MOLDA NOSSA VIDA ESPIRITUAL
A. W. Tozer (1897–1963) afirmou: “O que você pensa sobre Deus é a coisa mais importante sobre você”.² Essa frase resume o impacto profundo que a visão que temos de Deus exerce sobre a nossa vida. A maneira como entendemos o Criador determina como nos relacionamos com Ele, com a Igreja e com o próximo.
Perigos de um Conceito Desequilibrado
Muitas vezes, ao enfatizar um atributo em detrimento de outros, caímos em erros práticos e espirituais. A título de exemplo, dois casos clássicos serão suficientes:
- Sabemos que Deus é amor, mas o esquecimento de outros atributos, como os da justiça e santidade divina, nos levam à tolerância com o pecado. Deus é amor, mas isso não significa que toda forma de amor é aprovada por Ele.
- Por outro lado, a ênfase na santidade de Deus pode gerar legalismo, julgamento prévio e ausência de compaixão, como encontramos em muitos fariseus (Mt 23.23). Deus é santo, mas isso não significa que devemos privar as prostitutas e pecadores do Evangelho de Cristo, o que está muito bem explicado na Parábola do Trigo e do Joio.
A Bíblia nos apresenta Deus perfeitamente equilibrado em todos os Seus atributos, e ninguém possui competência para escolher apenas aqueles que mais lhe agradam em detrimento de outros dos quais não gosta: “Eu sei que tudo quanto Deus faz durará eternamente; nada se lhe deve acrescentar e nada se lhe deve tirar. E isso faz Deus para que haja temor diante dele” (Ec 3.14).
CONCLUSÃO
Conhecer os atributos de Deus não é apenas uma questão acadêmica, mas uma prioridade espiritual e prática para todos os que servem ao Senhor. São eles que formam o alicerce das doutrinas bíblicas, o critério para discernir as heresias e o ponto de partida para todo o amadurecimento cristão.
Um conceito distorcido de Deus pode nos afastar da verdade, da santidade e até da salvação. Por isso precisamos estudar profundamente as Sagradas Escrituras, pois são nelas que Deus se revela plenamente, e também suplicar ao Espírito Santo que nos conduza a um conhecimento mais profundo do Criador. Como está escrito no livro do profeta Oséias 6.3:
Conheçamos, e prossigamos em conhecer ao Senhor...
Portanto, avancemos na busca pelo conhecimento de Deus com reverência, humildade e fé, certos de que quanto mais O conhecermos, mais seremos transformados à Sua imagem.
Christo Nihil Praeponere — A nada dar mais valor que a Cristo
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NOTAS
¹ GEISLER, Norman. Teologia Sistemática Vol 1. CPAD, p. 559.
² Ibdi., p. 560.
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